Pesquisa do CIO
Investimentos com lente de gênero, Omnibus da UE e a reforma da eletricidade na China
Entenda como a ascensão da liderança feminina, as mudanças regulatórias na EU e a transição energética na China podem impactar os mercados.
A crescente presença de empresas lideradas por mulheres, a nova abordagem da EU para a sustentabilidade e as reformas no setor de energia renovável da China estão moldando o cenário global de investimentos.
Neste relatório, analisamos como essas transformações podem influenciar os mercados, criando novas oportunidades e desafios para os investidores.
Lente de gênero: uma olhada nos dados
- O número de mulheres empreendedoras está aumentando constantemente, criando mais oportunidades de investimento.
- Dados da PitchBook mostram que, em 2023, as empresas com pelo menos uma fundadora do sexo feminino representavam cerca de um quarto de todos os negócios de capital de risco (VC) nos EUA.
- Da mesma forma, quase 25% de todas as saídas naquele ano envolveram empresas lideradas por mulheres.
- Isso sugere que as empresas lideradas por mulheres têm chances semelhantes de sair como outras empresas no mercado.
- Dados da PitchBook mostram que, de 2014 a 2023, as empresas lideradas por mulheres tiveram uma taxa de queima ("burn rate") consistentemente menor em comparação com o mercado mais amplo dos EUA.
- Uma taxa de queima menor, que reflete o uso eficiente do capital, também pode indicar condições mais difíceis de captação de recursos para essas empresas.
- Embora os investidores tenham preferência pela eficiência do capital, essa tendência pode ter limitado o potencial de crescimento das empresas lideradas por mulheres.
- De fato, apesar da disponibilidade cada vez maior de capital, as fundadoras ainda enfrentam desafios. As empresas lideradas apenas por mulheres receberam financiamento de capital de risco de um dígito nos últimos 10 anos.
- Exploramos uma questão adicional para investigar melhor a persistência da lacuna de financiamento de capital de risco: as mulheres estão optando por operar empresas em setores que são menos favorecidos pelos investidores de capital de risco?
- No total, entre 2014 e 2023, quase 60% das empresas financiadas por capital de risco lideradas por mulheres estavam no setor de tecnologia e IA, muito mais do que os cerca de 40% do mercado dos EUA como um todo.
- Esse resultado é contraintuitivo, considerando que foi amplamente documentado que existe uma lacuna STEM na qual muito menos mulheres têm treinamento em tecnologia do que homens.
- Infelizmente, na ausência de dados sobre o número de negócios por setor que não foram financiados por VCs, não é possível explicar claramente essa distorção, mas acreditamos que isso possa ter algo a ver com o nível de financiamento de um dígito. Pode ser que uma proporção maior de mulheres em STEM esteja disposta a se tornar empreendedora do que os homens e, portanto, mais dessas empresas recebem financiamento.
- Também pode ser que as empresas de tecnologia se destaquem no universo de investimentos como um todo e que os investidores selecionem desproporcionalmente empresas em áreas de alto crescimento, como tecnologia, para fundadoras mulheres.
- Analisando o total de negócios financiados por capital de risco, observamos que cerca de 10% dos negócios financiados foram em áreas impactantes, como educação, femtech ou fintech, criando oportunidades para investidores interessados nesses modelos de negócios.
- As empresas lideradas por mulheres têm demonstrado consistentemente maior eficiência de capital, conforme evidenciado por suas menores taxas de queima em comparação com o mercado dos EUA como um todo de 2014 a 2023.
- Apesar dos desafios na captação de recursos, as empreendedoras estão entrando cada vez mais em setores de alto crescimento, como tecnologia e IA; quase 60% das empresas financiadas por capital de risco lideradas por mulheres estão nessas áreas.
- O foco histórico no investimento com lente de gênero em mercados privados coincidiu com, no mínimo, ou foi mesmo diretamente impactado por, o aumento gradual da participação do financiamento em estágio inicial para empresas (co)lideradas por mulheres, criando oportunidades mais amplas para investidores interessados nesses tópicos.
Regulamento Omnibus da UE
- No dia 26 de fevereiro, a Comissão Europeia (CE) apresentou propostas para simplificar as regulamentações da UE, aumentar a competitividade e liberar investimentos.
- Se implementadas, essas mudanças poderiam mobilizar um adicional de EUR 50 bilhões e economizar cerca de EUR 6,3 bilhões por ano, de acordo com estimativas da própria CE.
- As principais alterações incluem:
- Remoção de aproximadamente 80% das empresas do escopo da CSRD, concentrando as obrigações de informação nas empresas maiores;
- Adiar em dois anos as exigências de informação da CSRD e em um ano a aplicação das exigências da CSDDD para as empresas maiores (ambas com início em 2028);
- Introdução de um limite de materialidade financeira para geração de informação de taxonomia e 70% menos pontos de dados;
- Isenção dos pequenos importadores das obrigações do Mecanismo de Ajuste de Carbono nas Fronteiras (CBAM), excluindo cerca de 90% dos importadores e ainda cobrindo 99% das emissões.
- As propostas serão agora analisadas pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu para aprovação. Em geral, o Conselho apoia a iniciativa de simplificação, assim como o maior partido do Parlamento Europeu. No entanto, muita coisa ainda pode mudar entre o momento atual e o texto final que emergirá do processo legislativo europeu.
- Os números de investimentos e economias prometidos pelo pacote podem ser positivos para a competitividade da UE, se forem implementados e executados com sucesso em toda a UE.
- Enquanto isso, a incerteza regulatória persiste, especialmente para as empresas que já estão avançadas na preparação de suas informações.
- A incerteza de curto prazo traz riscos para as estratégias de líderes de baixa emissão de carbono e ESG se a diminuição da divulgação de sustentabilidade das empresas remodelar ou reduzir os universos de investimento.
- O pacote Omnibus de Sustentabilidade da UE elimina as exigências de divulgação de sustentabilidade para empresas menores europeias e estrangeiras e simplifica a divulgação obrigatória.
- É provável que as empresas maiores da UE e os principais índices globais sejam obrigados a apresentar relatórios, e os investidores poderão ver uma maior divulgação focada em tópicos financeiramente relevantes.
- Em nossa opinião, as mudanças propostas nas regras de due diligence da cadeia de suprimentos diluem significativamente os benefícios da regulamentação para a transparência e a identificação de riscos relacionados aos direitos humanos.
- Em suma, a evolução dos regimes de divulgação permitirá que as empresas líderes em ESG se diferenciem daquelas que atendem aos requisitos mínimos.
Reforma da energia renovável na China
- A recente reforma das energias renováveis na China tem implicações importantes para o desenvolvimento da energia limpa. O preço da eletricidade na rede proveniente de energia renovável será agora determinado por mecanismos de mercado em vez de preços fixos.
- A intervenção de preços baseada no mercado visa equilibrar a redução de custos e a estabilidade financeira. Essa reforma pode oferecer uma proteção contra as desvantagens econômicas do projeto, estimular a adoção de mais energias renováveise garantir a integração e a estabilidade da rede a médio e longo prazo.
- Isso ocorre em meio ao forte crescimento do setor de energia limpa no ano passado, bem como às preocupações com o excesso de capacidade e a queda da lucratividade.
- A energia limpa desempenhou um papel fundamental para que a China atingisse sua meta de crescimento de 5% do PIB em 2024. O setor foi responsável por mais de 10% do PIB em 2024 pela primeira vez, com vendas e investimentos, liderados pelos "três novos" emergentes da China (veículos elétricos, baterias e energia solar), totalizando US$ 1,9 trilhão, de acordo com o Carbon Brief.
- No entanto, a crescente dependência dos "três novos" enfrenta desafios geopolíticos e de excesso de oferta que afetam a lucratividade. Além disso, tanto os investidores quanto as empresas questionam os retornos do investimento em energia solar, pois as reduções de custo decorrentes de economias de escala são, de certa forma, compensadas por medidas de backup de confiabilidade (armazenamento de energia, capacidade de energia tradicional para suporte de intermitência), deixando os combustíveis fósseis competitivos.
- As tensões geopolíticas que levam à imposição de tarifas entre a China e os principais mercados de infraestrutura de energia renovável, como os EUA, também devem desafiar os retornos dos investimentos em energia solar.
- O excesso de oferta de energia na China e em todo o mundo pode levar a períodos extensos de preços negativos. A Alemanha, por exemplo, como o maior mercado de eletricidade da Europa, registrou um aumento de 60% em relação ao ano anterior nas horas com preços negativos, chegando a 486 horas em 2024, conforme relatado pela Solarbe Global. Isso acontece quando a produção de energia de fontes renováveis excede a demanda da rede e, em alguns mercados, leva a preços negativos de energia para os produtores.
- A política baseada no mercado propõe um mecanismo sustentável de precificação e liquidação para novas usinas de energia renovável. Os produtores recebem ou pagam a diferença de preço (quando o preço da transação excede ou cai abaixo do preço do mecanismo), o que pode suavizar as flutuações de renda dos projetos renováveis, apoiar a viabilidade financeira e manter a confiança dos investidores.
- O impacto de curto prazo para as energias renováveis dependerá da implementação provincial e local. Em nossa opinião, será fundamental monitorar as usinas de carvão, pois elas desfrutam de vantagens sistêmicas, como a garantia de vendas de eletricidade por meio de contratos de longo prazo.
- Diante das operações relativamente consistentes das usinas de carvão, as energias renováveis podem estar mais expostas à concorrência do mercado. Enquanto isso, o ímpeto pelo desenvolvimento de projetos de carvão continuou no ano passado, já que o início da construção de usinas a carvão atingiu o nível mais alto desde 2015, de acordo com o Center for Research on Energy and Clean Air.
- Essa expansão de via dupla (carvão mantendo sua posição ao lado da implantação acelerada de energias renováveis) não é nova na política energética da China, pois as variações e a intermitência na geração de energia eólica e solar permanecem. O armazenamento de energia poderia ajudar a equilibrar o fornecimento ao longo do dia e das estações, mas os custos atuais continuam proibitivos.
- Continuamos a ver riscos à frente para o setor de energias renováveis da China. Damos preferência a investimentos de longo prazo em infraestrutura, eficiência energética e empreendimentos de tecnologia climática.
- A abordagem da China em relação à política energética "all of the above" (expansão do carvão e das energias renováveis) reconhece as necessidades de descarbonização e de confiabilidade energética, mas há riscos de excesso de oferta no longo prazo.
- Continuamos a ver a descarbonização de longo prazo como inevitável, mas os caminhos serão diferentes entre as regiões.
- Recomendamos que os investidores diversifiquem as tecnologias atuais e futuras, que podem ser acessadas por meio de ações públicas e oportunidades de investimentos alternativos, incluindo empreendimentos de infraestrutura e tecnologia climática.
Estratégias de investimento sustentável em ESG
Conheça uma variedade de abordagens estratégicas para investir em empresas que estão melhorando seu desempenho ambiental, social e de governança.