tabuleiro de xadrez

Analisamos as implicações econômicas e de mercado das políticas dos EUA sob a presidência de Donald Trump.

Este relatório explora a crescente incerteza causada pelas medidas políticas da administração, os potenciais riscos e oportunidades para os investidores e as estratégias de posicionamento de portfólio.

Parte do Acordo

Mark Haefele portrait

Mark Haefele
Chief Investment Officer
Global Wealth Management

Introdução

Todos os presidentes dos Estados Unidos iniciam seus mandatos com promessas ousadas de mudanças drásticas. No entanto, nesta ocasião, o volume, a amplitude e a velocidade das medidas do poder executivo, somadas à heterodoxia de algumas políticas propostas, estão gerando níveis incomuns de incerteza.

Nesse contexto, subestimar o que o presidente pode dizer, tentar ou alcançar representa um risco significativo. A volatilidade provavelmente permanecerá elevada enquanto os mercados avaliam um espectro mais amplo de possíveis cenários futuros.

Ao mesmo tempo, após mais de uma década na arena política, continua difícil diferenciar as estratégias de negociação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de seus reais planos de governo. Tanto seus opositores quanto seus apoiadores podem facilmente se deixar levar pelo ruído. Em nossa opinião, é crucial que os investidores se mantenham focados nos dados para distinguir a retórica da realidade e as distrações do verdadeiro rumo.

Os dados iniciais não parecem sustentar as manchetes sensacionalistas sobre migração, cortes de gastos e política externa. Por exemplo, apesar do tom acalorado entre Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, os Estados Unidos continuam negociando um acordo de segurança com a Ucrânia.

Nesta carta, compartilhamos nossas perspectivas sobre os últimos acontecimentos na política comercial, interna e externa dos EUA, seu possível impacto nos investidores nos próximos meses e anos, assim como as estratégias para posicionar os portfólios. Apresentamos nossos cenários de investimento mais recentes para ajudar os investidores a gerenciar um espectro ainda amplo de possíveis resultados e concluímos com nossas últimas perspectivas de investimento.
 

Nossas perspectivas

Em resumo, observamos que a economia dos EUA enfrenta este período de maior incerteza a partir de uma posição sólida.

Até o momento, consideramos que as medidas políticas implementadas não devem ter um impacto significativo no crescimento nem na inflação. Por outro lado, as medidas políticas anunciadas até agora não devem afetar o crescimento subjacente em setores como inteligência artificial e eletrificação.

Além disso, a estratégia da administração Trump de exercer pressão para obter mudanças ou concessões em questões-chave pode gerar oportunidades no longo prazo.

No entanto, a formulação apressada de políticas em múltiplas frentes está aumentando os riscos indiretos para o crescimento, tornando cada vez mais difícil ignorá-los. Além disso, diante do risco de uma paralisação do governo e da iminente publicação de relatórios de agências federais sobre tarifas, consideramos que a volatilidade tende a se intensificar.

Para enfrentar os próximos meses, recomendamos manter investimentos em renda variável, com um foco nos EUA, inteligência artificial, energia e recursos, mas também cobrir essas exposições em ações para mitigar os riscos de curto prazo. Os investidores também devem garantir queseus portfólios estejam bem diversificados com ativos como títulos de qualidade, ouro e investimentos alternativos.
 

Ucrânia

Em janeiro, o presidente Trump instou a Rússia a pôr fim à invasão da Ucrânia ou, caso contrário, enfrentaria sanções. «Podemos fazer isso pelo bem ou pelo mal», escreveu. Durante a campanha eleitoral, também prometeu encerrar a guerra em um único dia.

Isso não foi possível e, desde então, suas ações incluíram a abertura de negociações diretas com a Rússia e a atribuição da responsabilidade pelo início do conflito à Ucrânia. No entanto, apesar da retórica inflamada entre o presidente Trump e o presidente Zelenski, no momento da redação deste relatório, o Financial Times informa que os Estados Unidos e a Ucrânia chegaram a um acordo sobre os termos para explorar conjuntamente os recursos minerais de propriedade estatal da Ucrânia.

Em nossa opinião, ao exigir concessões financeiras da Ucrânia (ou da Europa) em troca do apoio dos Estados Unidos, a administração Trump busca garantir um acordo que lhe permita afirmar que outros países deixaram de «se aproveitar» dos Estados Unidos. Acreditamos que Trump prefere essa estratégia a retirar completamente o apoio à Ucrânia e à segurança europeia.

Nosso cenário-base é a concretização de um cessar-fogo ao longo deste ano. Isso provavelmente implicaria que a Ucrânia perdesse parte de seu território, mas, em troca, obteria garantias de segurança e compromissos de reconstrução por parte do Ocidente (ainda que não necessariamente dos Estados Unidos).

Por sua vez, a Rússia poderia negociar um alívio das sanções e a retomada parcial do fornecimento de gás para a Europa, embora seja improvável que os níveis anteriores à guerra sejam restabelecidos.

Um acordo desse tipo poderia trazer certos benefícios moderados para a economia europeia, como uma redução nos preços da energia e uma melhora na confiança dos consumidores e das empresas. No entanto, também resultaria em custos fiscais. Por exemplo, os gastos com defesa poderiam ultrapassar o requisito previamente acordado pela OTAN de 2% do PIB. Estimamos que elevar os gastos com defesa de 21 países europeus para, pelo menos, 3% do PIB exigiria um total adicional de 230 bilhões de euros em receitas públicas (em comparação com os 75 bilhões de euros adicionais necessários para alcançar o patamar de 2%).

Para os investidores, um acordo de cessar-fogo duradouro poderia atuar como um catalisador positivo para as ações europeias. Em particular, é provável que as empresas do setor de materiais de construção e industriais sejam algumas das principais beneficiadas pelos esforços de reconstrução.

No mercado de títulos, os spreads soberanos dos países mais expostos a uma possível escalada com a Rússia poderiam diminuir após um acordo. Um cessar-fogo também poderia melhorar a percepção dos investidores sobre o euro. Por fim, prevemos que algumas ações do setor de defesa se beneficiem do aumento dos investimentos em segurança.

Sem dúvida, um acordo entre Ucrânia, Europa e Rússia — um pré-requisito para um cessar-fogo — não será fácil. Isso indica que o conflito dificilmente será resolvido no curto prazo. Dado o recente desempenho positivo de diversos ativos europeus, impulsionado em parte pelo otimismo com um possível cessar-fogo no curto prazo, recomendamos a preparação para esses cenários por meio de estratégias estruturadas, sempre que possível, em vez de assumir posições diretas.
 

Política interna

Durante a campanha eleitoral, o presidente Trump prometeu realizar a "maior redução regulatória da história do nosso país", "reduzir drasticamente os impostos para trabalhadores e pequenas empresas" e "eliminar o desperdício do orçamento de nossa grande nação", além de implementar medidas para conter a imigração indocumentada.

Se essas políticas beneficiarão ou prejudicarão o país dependerá, em grande medida, da posição política de cada pessoa. Quanto ao impacto nos mercados, provavelmente dependerá de as expectativas de desregulamentação e reduções fiscais conseguirem compensar os receios sobre os efeitos potenciais de uma política migratória mais restritiva, tarifas mais altas e cortes nos gastos públicos.

Neste ponto, fazemos duas observações: (1) Em nossa opinião, o impacto direto das medidas anunciadas até agora não é suficientemente significativo para gerar um efeito substancial no crescimento, na inflação ou no déficit (nem nos objetivos políticos declarados). (2) Os efeitos secundários e a implementação apressada de políticas representam riscos de baixa para o crescimento e pressões de alta sobre a inflação.

Tomemos como exemplo os cortes nos gastos públicos. Por meio de diversas medidas, o número de funcionários federais poderia ser reduzido em vários pontos percentuais; no entanto, isso representa apenas 0,1% da massa salarial de toda a economia, o que sugere um impacto limitado no emprego total, no PIB ou nos gastos governamentais.

Entretanto, evidências anedóticas sugerem possíveis efeitos adversos decorrentes da rapidez na execução do programa. Por exemplo, artigos da imprensa destacam decisões equivocadas que levaram à redução de pessoal essencial para a prevenção da propagação da gripe aviária ou até mesmo para a operação do sistema de dissuasão nuclear dos EUA.

Ao mesmo tempo, maior segurança na fronteira e uma retórica hostil poderiam desacelerar a imigração e limitar o crescimento da oferta de trabalho. Com uma economia em pleno emprego, a menor disponibilidade de trabalhadores poderia elevar os salários e, potencialmente, aumentar a inflação.

Por outro lado, as medidas fiscais podem não impulsionar o crescimento como se esperava. A extensão da Lei de Cortes Fiscais e Emprego (TCJA, na sigla em inglês) evitaria um aumento de impostos, mas não constitui um estímulo por si só.

Além disso, a falta de consenso dentro do grupo House Freedom Caucus coloca até mesmo essa medida em risco. Em nossa opinião, também é improvável que o Congresso aprove novos cortes fiscais significativos para pessoas físicas ou jurídicas. No momento da redação deste relatório, a Câmara dos Representantes aprovou um projeto de resolução orçamentária, mas isso apenas adia as decisões difíceis sobre cortes de impostos e gastos públicos.

Por fim, um ambiente político altamente polarizado aumenta os riscos associados a questões fiscais, como a aprovação do orçamento e o limite de endividamento. No curto prazo, prevê-se uma paralisação do governo em meados de março, caso, como parece provável, ambos os partidos não cheguem a um acordo sobre o financiamento. Além disso, no verão, um novo impasse prolongado sobre o limite de endividamento pode ocorrer.

De modo geral, esperamos que a economia se recupere rapidamente assim que o financiamento for restabelecido, visto que a maioria dos funcionários públicos continuará recebendo seus salários, ainda que com atrasos. A paralisação mais longa do governo até hoje durou 35 dias, durante o primeiro mandato de Trump, e, segundo estimativas do Escritório de Orçamento do Congresso, reduziu o crescimento do primeiro trimestre de 2019 em 0,2 pontos percentuais.

Para os investidores, isso reforça a importância de permanecerem expostos ao mercado, embora também recomendemos considerar estratégias de proteção para ativos de risco nos EUA. Isso se torna especialmente relevante diante da possível paralisação do governo e do prazo de 1º de abril, quando as agências federais apresentarão suas recomendações sobre a futura política comercial.
 

Ideias de investimento

Para enfrentar os próximos meses, recomendamos manter investimentos em ações, com foco nos Estados Unidos, inteligência artificial e no setor de energia e recursos naturais.

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