Guerras de carros? Descarbonização e livre comércio

.A Comissão Europeia abriu uma investigação sobre os supostos subsídios estatais chineses aos fabricantes de veículos elétricos (VE), que, segundo ela, estão “desequilibrando as condições paritárias no campo da concorrência”. Relatórios da mídia também sinalizaram a possibilidade de tarifas adicionais sobre os veículos elétricos chineses importados no bloco europeu.

A China é um importante fornecedor de matérias-primas para a Europa e um mercado importante para as marcas europeias, incluindo as montadoras de automóveis que as tarifas visariam proteger. Dito isso, a atual tarifa de importação para carros chineses que entram na Europa é de apenas 9%, em comparação com os 15% que a China cobra no sentido inverso, indicando espaço para uma possível harmonização.

Apesar do aumento do foco político no protecionismo, com a Lei de Redução da Inflação dos EUA como exemplo recente, há muitos motivos para que os legisladores reflitam cuidadosamente antes de assumir essa postura. Acreditamos que o protecionismo penalizaria os consumidores e, em última análise, prejudicaria o progresso da descarbonização.

Os grandes subsídios do governo desempenham um papel importante na promoção do próspero e extremamente competitivo setor chinês de veículos elétricos e baterias, com a estimativa do MIT Tech Review de mais de 200 bilhões de CNY gastos entre 2009 e 2020. Como resultado, a cadeia de suprimentos se desenvolveu em sintonia com a vertical e criou um domínio tecnológico global.

Segundo o CEO da Renault após o salão do automóvel em Munique, onde os VEs chineses foram o centro das atenções, os fabricantes chineses de VEs “se encontram uma geração à nossa frente”.

O apoio incomparável do governo a esse espaço inexplorado há duas décadas foi crucial para que a China emergisse como o maior mercado de VE em termos de carros vendidos. Os VEs também estão se aproximando da paridade de custo sem subsídios com os motores de combustão interna na China. Os motoristas contam com o suporte da maior rede de recarga do mundo e com padrões de recarga uniformes em todas as marcas. Uma transição acelerada exige um apoio holístico, e a experiência da China proporcionou muita visibilidade, se os políticos da Europa puderem aceitá-lo.

Vale a pena observar, no entanto, que os VEs chineses vendidos na Europa ainda têm preços em torno da média regional de 50.000 a 60.000 euros, de acordo com a JATO, um grupo de pesquisa do setor. Comparativamente, o preço médio de venda de um VE na China é de cerca de 30.000 euros. Embora a Comissão Europeia tenha relatado que a participação da China no segmento de VEs vendidos na Europa tenha aumentado para 8% e a previsão é de que aumente para 15% até 2025, isso inclui carros fabricados na China para marcas internacionais. A JATO estima que a participação de mercado das marcas chinesas na Europa no primeiro semestre de 2023 seja inferior a 1%.

Em nossa opinião, a marca de VE mais agressiva quanto a preços é a Tesla, que reduziu os preços de venda na Europa em abril, com o Modelo Y para o mercado de massa sendo vendido a partir de 46.000 euros. De acordo com a JATO, o Model Y da Tesla é agora a unidade de VE mais vendida no bloco europeu este ano. Isso sugere que a sensibilidade ao preço é alta, e os subsídios do governo estão perdendo força à medida que o mercado cresce. A Alemanha já reduziu seu subsídio para VEs de 5.000 euros para 3.000 euros por veículo este ano, e um subsídio unitário semelhante na Holanda está sujeito a uma cota (que se esgotou no meio do ano em 2022).