Comentário de mercado
Comentário de mercado: A surpresa esperada
Uma análise exclusiva sobre as perspectivas e estratégias de investimento frente às políticas monetárias do Fed e Banco Central do Brasil

Com foco nas políticas do Federal Reserve dos EUA e do Banco Central do Brasil, nossa análise oferece insights valiosos sobre o impacto esperado nos mercados de ações e de renda fixa. Abordamos também as tendências de corte de juros e seus impactos econômicos.
A surpresa esperada
Previsões cruciais, mudanças no cenário econômico global e recomendações de investimento
- Em sua reunião desta semana, o Federal Reserve avisou que não pretende começar o ciclo de cortes de juros em março, no entanto, o mercado ainda não tirou completamente do preço essa possibilidade. A projeção atual de 44% de probabilidade de cortes ainda no primeiro trimestre do ano deve ser majoritariamente retirada dos preços até a data da próxima reunião de política monetária nos Estados Unidos.

- Na visão do CIO Office é mais provável de que o corte de juros seja realizado em maio ou mesmo em junho (já tínhamos essa visão desde o ano passado).
- A melhor maneira de entender a abordagem do Banco Central norte-americano é entender o balanço de riscos que ele administra. A economia continua forte, os últimos dados seguem apontando nessa direção de resiliência e a inflação está convergindo.
- Assim, há muito menos pressão sobre o Fed para começar o ciclo de cortes de juros mais cedo. O risco para o Fed seria uma desaceleração mais forte nos dados de atividade, mas os resultados, por enquanto, são espetaculares: convergência da inflação em direção a meta, com pouco ou nenhum sofrimento em termos de desaceleração econômica.
- Já esperávamos que o mercado tivesse que corrigir a expectativa sobre o momento de início dos cortes de juros. Trata-se mais de uma discussão de quando isso deve acontecer, do que um debate sobre se os cortes realmente virão.
- Na verdade, o ano de 2024, em nossa visão, será um ano de corte de juros nos Estados Unidos e na Europa e isso apoia as principais recomendações de investimento com posições maiores que as históricas compradas em títulos de renda fixa de grau de investimento nas carteiras em dólares e a sobre alocação em renda fixa (tanto em pré-fixados quanto em juros ligados a inflação) nas carteiras em reais.
- A novidade e surpresa deste ciclo é a consistência dos dados de crescimento e de convergência inflacionária nos EUA, é como se os dados indicassem não apenas um pouso suave (uma desaceleração lenta da economia), mas sim uma continuidade do voo, ou seja, com atividade forte e desinflação.
- Na sexta-feira 2 de fevereiro, por exemplo, tivemos mais um dado de criação de vagas acima do esperado, o Payroll veio com 353 mil novos empregos, enquanto o mercado esperava 185 mil. O dado de remuneração também acelerou, com alta mensal de 0,6% no mês de janeiro, ante projeção do mercado de 0,3%.
- Esse cenário adia no tempo e limita o ganho que esperamos nas posições aplicadas em renda fixa tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, mas não muda nossa visão de que, em breve, a necessidade de juros tão restritivos diminuirá nos dois países devido à queda da inflação que ambos os países já observam.
- O CIO Office projeta o nível de 3,5% para a taxa do Treasury de 10 anos ao final de 2024 e, embora o mercado já projete mais do que os 100 pontos-base de corte de juros que nós esperamos para o ano, quando o ciclo começar, muito provavelmente as expectativas já estarão mais realistas, e a confirmação do começo do ciclo de cortes deve dar início a uma valorização dos ativos de renda fixa.
- No Brasil, na reunião de política monetária dessa semana, o ritmo de cortes de juros foi mantido e seguimos confiantemente em direção a juros básicos de um dígito no final desse ano.
- Em relação aos impactos na bolsa, sabemos que, em geral, 6 meses após o início de cortes de juros nos EUA, o índice S&P500 costuma estar acima do patamar anterior ao início do corte de juros. E esse efeito costuma se refletir em desempenhos positivos também para outras bolsas ao redor do mundo.
- No Brasil, a correlação desse afrouxamento monetário norte-americano e desempenhos das ações brasileiras não é tão clara, dado que o desempenho das ações no país costuma ser pautado por vetores mais específicos como o preço internacional de commodities e a existência de reformas econômicas estruturais no Brasil.

- No entanto, dessa vez, projetamos a possibilidade da bolsa brasileira reagir mais que proporcionalmente ao ciclo de corte de juros no exterior, desde que não ocorra um episódio mais agudo de aversão a risco.
- Para apoiar essa visão, além do preço descontado dos ativos no Brasil, é interessante notar como o retorno dos títulos de renda fixa de longo prazo do tesouro norte-americano tem pautado o apetite dos investidores desde o terceiro trimestre de 2023.
- No segundo semestre do ano passado, com o maior prêmio exigido pelos investidores para comprarem as Treasuries, observamos dificuldade para os mercados de ações globais atingirem um bom desempenho. Após o pico de 5% de retorno ao ano embutido nas treasuries no final de outubro, a queda desses retornos projetados nos ativos de menor risco no mundo alimentaram o bom desempenho das bolsas globais, inclusive o da Bovespa em novembro e dezembro, com o mercado brasileiro recebendo forte fluxo de investimentos de estrangeiros.
- Em janeiro, nova alta dos yields das treasuries aconteceu ao mesmo tempo em que os estrangeiros retiraram grandes somas da bolsa, forçando o índice brasileiro a acumular retorno negativo de 4,8% no primeiro mês do ano. A taxa de juros da Treasury de 10 anos está agora em 3,90%. Há espaço para queda desse nível se nossas projeções se confirmarem, o que deve ser positivo para ativos de risco no mundo todo.
- O desempenho da Bovespa depende em alguma medida do movimento na bolsa americana. Estamos no meio da temporada de balanços corporativos nos EUA e temos que aguardar a conclusão para termos uma visão mais clara, mas, até agora, o desempenho não tem sido uniforme entre as empresas.
- Do ponto de vista macro, pudemos notar que, após a comunicação do Fed de não começar o ciclo de cortes em março, o índice SP500 caiu 1,12% no dia, para recuperar boa parte desse movimento com a alta 0,9% já no dia seguinte. Mercado não puniu excessivamente os preços em função do adiamento do ciclo, apesar do forte desempenho acumulado pela bolsa americana em 2023.
- Com o Fed postergando os ventos favoráveis externos, a bola volta a ficar no campo do governo federal e do congresso brasileiros. Será necessário um cuidado maior em sinalizar que as políticas macro e micro continuarão condizentes com a estabilidade econômica, dado a volta da atenção do mercado ao fundamento doméstico.
- Nossa recomendação segue sendo a de manter a alocação em ações no Brasil em patamares neutros em relação ao histórico e seguirmos sobre alocados em ativos de renda fixa, na visão de que terminaremos o ano com juros mais baixos e reconhecendo que os prêmios embutidos na renda fixa no Brasil e no exterior são historicamente altos, especialmente nesse cenário de inflação em queda nos dois países mais populosos das Américas.
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