Investindo no Brasil – Momento "Goldilocks"

No Brasil, a inflação está caindo rapidamente, e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) está mais forte do que o esperado. A atividade econômica, medida pelo PIB, expandiu 1,9% na comparação trimestral no 1T23, acima da estimativa de consenso de 1,2%. Como resultado, os economistas estão mudando sua meta de crescimento esperado do PIB de 2023 para cerca de 2,4% (versus 1% antes). Não por acaso, o desemprego também está abaixo do esperado, em 8,5%.

A inflação de preços ao consumidor foi de 0,32% em maio, 10 pontos-base abaixo do consenso. O mercado também reduziu as expectativas de inflação de fim de ano, de 6% para cerca de 5%. Na nossa visão, há uma boa chance da inflação ao consumidor encerrar o ano em 4,75%, a banda superior da meta de inflação do Banco Central do Brasil (BCB).

Acreditamos que o atual ambiente econômico reduz o risco político. Um dos motivos é que se espera que o governo tenha muito menos incentivo para implementar medidas populistas que possam prejudicar a economia. Além disso, a agenda de reformas em curso avança no Congresso Nacional.

Embora o impacto positivo do marco fiscal já esteja majoritariamente precificado no mercado, acreditamos que a reforma tributária possa trazer benefícios de longo prazo para a economia. O Brasil é conhecido por grandes distorções e um sistema tributário muito complexo, o que aumenta significativamente o custo de se fazer negócios. O resultado é um país onde os produtores são mais propensos a selecionar técnicas de produção menos eficientes por conta dessas distorções fiscais – o baixo crescimento do país nas últimas décadas não se deveu ao acaso.

Dito isso, é importante ressaltar que o Congresso tem trabalhado de forma eficiente para fornecer pesos e contrapesos para as propostas do governo, contribuindo para um ambiente político mais saudável no Brasil.

Quanto ao quadro global, a inflação dos EUA continua a cair e as condições financeiras estão apertadas, com o Federal Reserve prestes encerrar o seu ciclo de aperto monetário nos próximos meses. A atividade econômica também se mostrou resiliente, então acreditamos que um "pouso suave" é provável. Da mesma forma, achamos que o rali na inteligência artificial foi justificado, e uma combinação de entusiasmo e "medo de perder" ajudou a mantê-lo. Consequentemente, estamos testemunhando um ambiente de alto apetite a risco nos mercados globais.

O cenário “Goldilocks” geralmente está ligado a uma queda no risco da carteira. As classes de ativos tendem a enfrentar uma redução na volatilidade e um aumento nos preços – devido ao menor prêmio de risco exigido pelos investidores. Como resultado, a maioria das classes de ativos se valorizou recentemente, refletindo essa melhora. A preços atuais, ainda vemos perspectiva de valorização acima da média em ativos atrelados à inflação e fundos imobiliários.

No caso dos ativos atrelados à inflação, acreditamos que o prêmio de risco atual embutido em títulos de longa duração é maior do que o ambiente econômico exige. Confiamos que o risco fiscal do Brasil diminuirá, mesmo que o nível da dívida em relação ao PIB não se estabilize no curto prazo. Os indexados a inflação também devem se beneficiar do ciclo de flexibilização implementado pelo BCB – por isso, vemos esses títulos como uma classe de ativos mais preferida.